quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Carta ao Conselho Universitário da UNESP

Carta lida por representantes discentes ao Conselho Universitário (C.O.) da UNESP em reunião do dia 31 de Outubro de 2013:

"Neste momento, 12 estudantes estão sofrendo processo de sindicância devido à ocupação do prédio da Reitoria, nos dias 16 e 17 de Julho de 2013, estudantes os quais se colocam em luta por uma universidade a serviço da sociedade que a sustenta, que lutam por cotas, por permanência estudantil, democracia na universidade e contra a repressão aos movimentos sociais.

Durante a ocupação, a Reitoria, mostrando toda sua intransigência, abriu um processo de reintegração de posse contra os estudantes que ocupavam o prédio, o que resultou em 113 qualificações. Tratando como caso de polícia a luta dos estudantes por uma universidade de qualidade.
Mais uma vez a reitoria demonstra o caráter repressor que guia sua gestão, afinal, um projeto de precarização e privatização da universidade, como vemos hoje, somente se sustenta pela mão de ferro que massacra qualquer manifestação que exista neste espaço.
Neste momento novamente a reitoria tenta trazer inércia ao movimento estudantil pela perseguição política. Ao mesmo tempo impõem sua própria lógica de centralização do poder e verticalização das relações ao movimento estudantil, visto que de 113 estudantes que constam no boletim de ocorrência, apenas uma pequena parte foi sindicada, sob acusações de serem estes os “líderes”. A reitoria quer “cabeças rolando” para servir de exemplo para os estudantes que futuramente cogitem construir uma luta pela transformação deste espaço.
Podemos responder neste momento por todo o movimento, dizendo-lhes que nossa organização é totalmente horizontal, não havendo líderes, figuras públicas ou um “messias” que nos guie e sim, uma construção advinda de baixo, das mais abrangentes realidades que compõem este movimento, nossas pautas e ações (como as ocupações) foram definidas em espaços de discussão, deliberação legítimas e coletivas do movimento estudantil, de assembleias de base à plenárias, e conselho de entidades estudantis, sendo estes, que estão sendo sindicados, são apenas interlocutores do movimento, não exercendo qualquer papel de direção ou liderança.
O processo de sindicâncias aberto pela reitoria passa longe de ser uma ação de bom-senso. Em realidade de grande bom-senso seria indicar um amplo debate para a transformação deste regimento.
Os artigos pelos quais somos acusados demonstram este caráter, como atentar contra a “moral e os bons costumes” ou “afixar cartazes fora dos locais a eles destinados”, dando somente alguns exemplos. Fica o questionamento: será que o PIMESP não é um ato atentatório à “moral e os bons costumes”? Será que a quase ausência dos negros na universidade não é atentatório à “moral e os bons costumes”? Será que não é atentado à “moral e os bons costumes” o 70-15-15 que exclui estudantes e servidores técnico-administrativos dos rumos da universidade?
Vós, que do alto da cúpula da academia ratificam o interesse dos poderosos para a universidade nos acusam de causar 41 mil reais em danos à universidade. Apesar de não termos causado nenhum destes prejuízos, vemos muito além que o maior dano, na vista de nossos acusadores, é a transformação que causamos nos rumos desta universidade, fazendo-a ter de reagir a uma crise, até então, negligenciada do alto desta cúpula.
Agora está posto: foi dado início a “caça às bruxas”, a perseguição a mais um movimento social, o Movimento Estudantil da UNESP. Temos clareza política de que, de forma alguma, foram 12 os sindicados: a totalidade do corpo estudantil da UNESP sofre, nesse momento, um processo administrativo falho, enviesado, deturpado e parcial. Assim como, em 13 de Dezembro de 1968, o governo militar promulgou o Ato Institucional nº 5 que diz: “CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores da ordem [processos subversivos e de guerra revolucionária] são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição”.
A ditadura militar, que tanto afetou a estrutura social, cultural e política deste país, não cessou e nossa resposta não será de docilidade e de submissão à ordem fascista institucional e estatal. Na mesma lógica, opera esta instituição que se diz de “ensino”, mas que visa a repressão. Não aceitaremos mais essa astúcia parva de um poder insustentável. Um poder que opera de si e para si, que reitera todas as ações anacrônicas e autoritárias de um Estado que não findou em torturar, apreender, exilar, punir e matar tantos membros de luta, tantos membros contrários à estrutura política que foi arquitetada pelos sedentos ao poder de cercear vidas e a liberdades.
É lamentável, contudo, saber que esta atitude é extremamente coerente com o posicionamento político de muitos que aqui estão, visto os recentes abusos também causados a servidores técnico-administrativos, como no caso do ofício circular, emitido pelo Prof. Durigan, que ameaçava corte de ponto de servidores em greve. Já neste momento, quatro (4) unidades realizam corte de salário dos servidores que participaram do movimento!
E a história se repete...
OS RESQUÍCIOS DA DITADURA AGONIZAM DENTRO DESTA UNIVERSIDADE!
NÃO FICAREMOS CALADOS!
PEDIMOS EDUCAÇÃO, MAS SÓ VEIO A REPRESSÃO!!
Exigimos o arquivamento imediato das sindicâncias!"

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