domingo, 2 de junho de 2013

Carta do Coletivo de Ocupação da Unesp de Araraquara, em apoio aos trabalhadores da UNESP/Araraquara:

"CARTA DE APOIO AOS TRABALHADORES DA UNESP/ARARAQUARA. 

Nós, estudantes da Unesp de Araraquara que estamos acampados no Campus e que construindo o Movimento Estudantil, apoiamos INTEGRALMENTE a luta dos funcionários. Entendemos que todas as reivindicações são justas! 

Estamos vivendo na universidade um forte ataque aos direitos dos estudantes e dos trabalhadores. Somente na Unesp de Araraquara houve um aumento de 175% dos contratos de trabalho terceirizados e o quadro dos funcionários DIRETAMENTE contratados se reduziu. Não bastasse esse ataque, a direção e a Reitoria não querem conceder os devidos ajustes salariais, as devidas melhorias nas condições de trabalho e se recusam a contratar os funcionários da limpeza, alimentação e segurança que hoje são empregados por empresas terceirizadas. 

O trabalho terceirizado na produção do espaço acadêmico enfraquece o movimento dos trabalhadores. A nossa força é fruto de nossa organização, unidade e disposição de luta. Os terceirizados quase não podem se organizar e participar das nossas lutas, pois podem ser demitidos sem grandes problemas para as empresas que os contrataram. Essa divisão no movimento dos trabalhadores diminui consideravelmente o nosso poder de pressão e, portanto, de conquistar as nossas reivindicações. Por isso precisamos construir a unidade de todos aqueles que participam da comunidade acadêmica e que concordam com as nossas pautas. 

Queremos, também, esclarecer alguns pontos. Nós somos sim uma PARTE do movimento estudantil dentro do campus. Somos a parte que deu início às mobilizações e que, em conjunto com os centros acadêmicos, e a assembléia geral dos estudantes, conseguimos realizar uma paralisação de três dias em que apresentamos as reivindicações a baixo: 

- A revogação da expulsão arbitrária dos seis estudantes da moradia. Essa expulsão se baseia em princípios ilegais. Eles alegaram que o comportamento dos alunos feriu “os bons costumes”, sendo que, uma vez que estavam em sua própria residência (em seu próprio quarto, para ser mais preciso) isto não se verifica. Além disso, a diretoria não respeitou o DIREITO DE DEFESA A TODOS OS ACUSADOS, o que torna ilegal todo o processo de expulsão. 

- Contra o Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público Paulista (Pimesp). Este programa é um ataque à entrada dos estudantes secundaristas na Universidade Pública. Ao invés de garantir 50% das vagas oferecidas para os alunos das escolas públicas, ele os obrigará a fazer um pré-curso inicial de caráter técnico por dois anos. Só depois de ter realizado este pré-curso é que eles poderão realizar o curso superior. 

Vale dizer que as vagas serão oferecidas pela Universidade, retirando o direito de escolher qual a faculdade que o estudante irá cursar. Por exemplo, se apenas o curso de história oferecer vagas, ou oferecer mais vagas, e o curso de medicina não oferecer nenhuma, ou muito poucas vagas, o estudante que gostaria de cursar a faculdade de medicina terá de se contentar em realizar uma faculdade de história! 

Este mesmo programa também retira direitos históricos dos estudantes, tais como a moradia estudantil, bolsa-alimentação e bolsa-estudos. Isto por que este pré-curso inicial garante um diploma técnico aos alunos e os estudantes que já possuem um diploma não podem acessar esses direitos. 

- Pela ampliação dos DIREITOS À PERMANÊNCIA ESTUDANTIL. O quadro da universidade é de um constante corte dos direitos dos alunos à permanência no espaço escolar. Sabemos que a qualidade dos cursos está diretamente relacionada a possibilidade do estudantes se dedicarem integralmente aos estudos e às atividades acadêmicas. Todos os estudantes pobres que são obrigados a trabalhar ao longo do dia e estudar apenas em poucas horas pela noite sabem das inúmeras dificuldades que enfrentam para realizar um curso de qualidade. A luta por PERMANÊNCIA ESTUDANTIL é a luta por um direito que importa diretamente aos filhos dos trabalhadores que ingressam na Universidade Pública. 

Infelizmente, a única prioridade das políticas que estão sendo implementadas pela Reitoria e Diretoria parece ser a contratação de grandes empresas privadas na área de construção, tecnologia e pesquisa. Os estudantes pobres estão cada vez com menos possibilidades de realizar um curso superior com todos os direitos garantidos pela constituição brasileira. Somente aqueles que já possuem recursos próprios poderão realizar seus cursos de um modo integral e com qualidade. 

- Por uma outra ESTRUTURA DE PODER DENTRO DA UNIVERSIDADE. Todos nós sabemos que a maioria dos que constroem o espaço público são os estudantes e os trabalhadores. Porém, curiosamente, nós não temos voto proporcional nos órgãos que decidem as políticas da universidade. Hoje os trabalhadores possuem apenas 15% dos votos. Nós estudantes também possuímos apenas 15%. Os outros 70% dos votos são exclusivos dos professores. É um absurdo que em uma Universidade Pública a maioria dos que compõem e constroem a mesma não tenha o direito de decidir os rumos deste mesmo espaço. Justamente por ser esta a estrutura de decisão dentro da Unesp que nossos direitos são retirados e contratos milionários são efetivados com dinheiro público para o interesse de poucos. 

Por todos estes pontos é que nos mobilizamos. Está claro que a Universidade está dividida. De um lado há aqueles que defendem que temos que lutar por nossos direitos e não aceitar essas políticas que nos prejudicam e dificultam cada vez mais a entrada dos filhos dos trabalhadores no Ensino Superior Público. De outro, há aqueles que defendem que a Universidade seja sucateada, que o sentido da universidade é realizar contratos com grandes empresas privadas; que não temos que lutar por nossos direitos e que, portanto, temos que assistir passivamente ao desmonte da Unesp. 

Estamos ao lado dos que lutam, dos que sabem que todos os nossos direitos são filhos de nossas MOBILIZAÇÕES e que nada nos foi dado por favor, mas sim por pressão de nossas LUTAS. Por isso saudamos a paralisação dos funcionários e nos dispomos a contribuir com suas lutas. 

Araraquara, 24 de maio de 2013. 

Coletivo de Ocupação da Unesp de Araraquara"

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